terça-feira, 27 de outubro de 2015

A solidão


Sem relacionamento e sem amor recebido e dadivoso definhamos e perecemos. Crescemos através de nossos relacionamentos e desenvolvemo-nos através deles, tanto no recebimento quanto na doação. Mas, curiosamente, quanto mais pessoas nossa doação tiver alcançado e quanto mais pessoas nos renderem o reconhecimento e o agradecimento devido _ mesmo que seja apenas por algo que dissemos, fizemos, vivenciamos, sofremos e alcançamos e que possa tê-los ajudado e enriquecido, conduzido, ter-lhes aberto novas opções e servido para a completude _ tanto mais devemos nos retrair deles e tanto mais solitários seremos e devemos ser.

Ao contrário da solidão da criança que a faz sofrer e até morrer, essa solidão é repleta. Ela não separa, apenas define o distanciamento entre nós e os outros, sendo a única coisa que torna a plenitude suportável, evitando que ela se esgote. Então, o olhar se desvia dos indivíduos, dirigindo-se para algo que, por trás deles, os conecta e os une. Só assim é que se renova aquilo que sustenta, aprofunda e desenvolve tanto o serviço aos indivíduos quanto o dar e receber entre nós e os outros.

Mas, também entre e nós e aquilo que atua por trás de tudo, somente o distanciamento e a devoção possibilitam a recepção, a compreensão, a ação no momento certo e a experiência incomum de que o vazio e a plenitude se condicionam mutuamente e de que o amor final está tão próximo quanto distante, tão unido quanto solitário. 

Extraído do livro "Liberados somos concluídos" (Bert Hellinger)

0 comentários:

Postar um comentário